sexta-feira, 9 de março de 2012

Resignação

Judite sentiu-se especial.
Nada havia de especialmente especial na situação mas, ainda assim, sentiu-se especial!
Cederam-lhe o lugar no autocarro! Um homem bem posto, mais ou menos da sua idade, mas a quem a vida cuidara bem melhor, levantou-se assim que a viu entrar, carregada de sacos. E ainda lhe sorriu! Um sorriso aberto, quase sedutor... ou talvez tivesse sido impressão dos seus olhos tristes, ávidos de carinho e atenção.
Pelo caminho até casa, sorria interiormente, e a sua face, de pele opaca e cansada, irradiava um certo brilho até!
Chegou à porta do prédio. Pousou as sacas. Enquanto procurava a chave, ouviu passos atrás de si; alguém assobiava e fazia as chaves tilintar. Virou-se; era o marido.
- Só estás a chegar agora? - perguntou-lhe ele; sacou a chave do bolso e entrou.
Judite nem teve tempo de responder. Pegou nas sacas, e entrou também. Fechou a porta atrás de si, olhou para fora através do vidro e suspirou.
Fora um momento especial.

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