No ar ainda paira o delicioso aroma adocicado do vinho, do açúcar, da canela e do limão que se misturaram lascivamente ao lume.
Vou contar-vos como tudo começou:
Escolhi peras rocha nacionais, do oeste, maduras mas rijas, de polpa branca, firme e suculenta.
Descasquei-as cuidadosamente, mantendo-lhes o pé. Confesso que, ao vê-las assim desnudas, me senti tentada a provar o seu sabor…
Mas adiei esse deleite. O resultado final prometia ser mais requintado e apetitoso ainda.
Instalei as peras dentro de um tacho – assim juntinhas amparam-se umas às outras. Reguei-as com vinho tinto alentejano, de cor robusta e corpo denso, e um pouco de água, para amenizar o vigor do vinho.
Juntei açúcar, um pau de canela (com cheiro a natal), e uma espiral amarela de casca de limão.
Esperei que as peras ficassem macias, aproveitando para inalar o delicioso aroma que se desprende do tacho.
Por fim, tirei as peras já coloridas e acaloradas por acção do vinho, e deixei o líquido reduzir-se a xarope, levemente viscoso e deliciosamente saboroso!
Sabem, tenho a sensação de que, se Adão tivesse tido este manjar à sua frente, a serpente teria escolhido as peras para serem o fruto proibido…
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