sábado, 17 de novembro de 2012

Receita para todos os dias

Esta semana foi movimentada, tumultuosa, quer na vida do país quer na minha. Talvez por isso tenha andado algo agitada, procurando satisfazer as solicitações dos afazeres, mas incapaz de lhes dar resposta cem por cento satisfatória…
Pelo meio, ouviu-se falar muito de direitos, menos de deveres; reclamou-se contra o que falta, esqueceu-se o que de bom temos; falou-se muito e escutou-se pouco, como é aliás apanágio neste país de doutos doutores.
Confesso que gosto pouco de me envolver em polémicas; prefiro viver a minha vidinha, aproveitando o que de bom tenho e lutando pelo que me falta, grata pelo que já consegui alcançar. Sim é verdade: a ambição não consta dos meus atributos… e nem lhe sinto a falta!
É positivo querermos ultrapassar-nos a cada dia, mas sem atropelar os outros e a nós mesmos, sabendo aproveitar o que já alcançámos, ou viveremos em permanente insatisfação.
O segredo é um pouco o de fazer omeletes sem ovos, e o resultado pode ser surpreendente, querem ver?
No meio da confusão de que vos falei, tive no frigorífico, durante dois dias, as partes finas de dois pequenos bacalhaus, já demolhadas, esperando tempo e paciência para serem desfiadas e congeladas. Sobrevivente de uma salmonela na infância que sou, começava a temer pela qualidade e segurança alimentar do dito bacalhau…
Costumo fazer amiúde, quando o frio chega, uma receita de lasanha de bacalhau com cogumelos e brócolos que encontrei nos meus primórdios de cozinheira. O resultado é sempre bastante apreciado! Resolvi aplicar o imbróglio que tinha no frigorífico neste prato.
Sorte malvada! – o improviso tem destas coisas… – não havia cogumelos nem brócolos disponíveis para completar a receita! Resignei-me a prescindir dos cogumelos e decidi substituir os brócolos por espinafres, crente de que o resultado seria igualmente apreciado.
Pois é… mas também se tinham acabado os espinafres! Tive que me virar e, criativamente, deitar mão à prata da casa.
Descasquei alguns dentes de alho e piquei-os; cortei cebolas em meias luas finas e um alho francês em rodelas. Fiz um estrugido com estes ingredientes, introduzindo-os nesta mesma ordem, e alegrei-o com cenoura raspada. Juntei finalmente o bacalhau desfiado, temperei com sal, pimenta branca e noz moscada e reduzi a temperatura, de modo a permitir que os sucos dos ingredientes se libertassem e misturassem lentamente. Cheirava bem na cozinha!
À parte, cozi as placas de lasanha, para ser mais rápido depois, no forno.
Quando o estufado estava quase no ponto, juntei meio pacote de grelos congelados, e deixei-os cozinhar um pouco. Fiz então nevar farinha sobre a mistura e acrescentei um pouco de leite (pouco, mesmo, porque se me colocavam sérias dúvidas acerca do resultado do casamento entre grelos e leite…).
Montei a lasanha, alternando as placas de massa com o aromático recheio e queijo da ilha, de cheiro e paladar intensos e francos, como o é o povo açoriano. Foi ao forno a gratinar.
O resultado foi excelente!
Se me tivesse deixado abater por não dispor de todos os ingredientes que queria usar, jamais teria conseguido fazer o jantar em tempo útil! Ao invés, arregacei as mangas, pus a cabeça a funcionar e rentabilizei os recursos de que dispunha, em prol do meu objetivo.
Em lado algum – nem sequer na Constituição – está escrito que a vida é fácil. O que sim está escrito, na natureza das coisas, é que devemos fazer o possível por facilitar as nossas vidas.
Vá lá: experimentem esta receita!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada por enriqueceres o meu petisco com as tuas deliciosas palavras...
Se, por qualquer motivo técnico, não conseguires publicar aqui o teu comentário, envia-o para petiscosdeletras@gmail.com