terça-feira, 6 de novembro de 2012

- Quem bate?

Bateram-lhe à porta.
Primeiro, “leve, levemente”, como dizia o poeta; como não fizesse caso, logo começaram a insistir, com mais e mais vigor.
A contragosto, descolou os olhos da televisão, abandonou a modorra do sofá e espreitou pela janela. Nada viu. Voltou para a sua zona de conforto, convencido de que se tratara de um equívoco.
O chamamento, porém, continuava! Tentou ignorá-lo, mas o ruído era demasiado!
Já em fúria, por ver o seu sossego destruído, acercou-se da porta e gritou:
- Quem bate?
Uma voz ténue e roufenha respondeu-lhe quase impercetivelmente.
- Mudanças? – parecera-lhe entender – Mas eu estou muito bem aqui! É engano!
A voz, porém, insistia.
Só a dada altura, cansado já de tamanho frenesi, se deu conta de que a voz vinha de dentro de si: era afinal a mudança que lhe batera à porta e ele, comodamente instalado na paz dos dias, insistira em não ver…

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