sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Descansa em paz

O dia estava a ser longo e penoso, mas Maria das Dores enfrentava-o com o habitual estoicismo e serenidade que a caraterizavam.
O corpo do marido jazia a poucos centímetros de distância, e as flores frescas iam-se amontoando em redor do esquife.
Davam-lhe os pêsames a cada passo, ora com mais sentimento, ora só por cortesia… E ela recebia-os, sempre com a mesma distância educada…
- Está arrasada! – comentavam.
- Amanhã será pior ainda, quando lhe faltar o nosso apoio e tiver que seguir com a vida… - murmuravam, olhando-a de soslaio.
Cumpridos todos os ritos da morte, Dores regressou a casa, depois de haver declinado, reconhecida, as ofertas para a acompanharem naquela noite:
- Prefiro estar só. – e todos respeitaram.
Abriu a porta da entrada e inalou longamente o silêncio profundo; percorreu cada cómodo vazio, cada recanto e então suspirou:
- Finalmente estou em paz!

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