sábado, 3 de novembro de 2012

Delírio de chocolate

Quando era criança, desejava ver chegar o dia em que seria capaz de cozinhar os petiscos de que mais gostava. Pensava eu, na altura – inocente desconhecedora dos pérfidos avisos das balanças – que assim poderia saboreá-los sempre que me aprouvesse. Incluíam-se no rol as batatas fritas, esparguete à bolonhesa e algumas doçarias, entre as quais a mousse de chocolate.
O tempo passou e os segredos da cozinha revelaram-se-me. No entanto, quando crescemos, por vezes esquecemos os sonhos de criança e, talvez por isso, nunca tinha feito mousse de chocolate, até esta semana…
Se tivesse sabido, teria antecipado esta experiência! Foi algo de sublime, de poético, de fortemente estimulante!
Poderá parecer algo esquizofrénico que, no meio do rebuliço de preparar uma festa para cerca de vinte pessoas alguém consiga deleitar-se como me deleitei com a preparação de uma mousse de chocolate, mas… eu sou assim! É essa a minha paixão pela cozinha e pelas sensações!
Comecei com aquele arrepiozinho de quem desconhece como vai correr algo que fará pela primeira vez, e o frémito da antecipação do resultado final.
A receita indicava que se deveria começar por bater as gemas com o açúcar.
Separei religiosamente cada clara incolor da sua gema cor do sol e acrescentei o alvo açúcar que, ao cair na taça, como que sussurrava. Misturei-os até aquela perfeita união se transformar num creme amarelo claro, aveludado, perfeito.
À parte, transformei as desinteressantes claras numa nuvem branca, fofa e doce, batendo-as em castelo com uma colher de açúcar.
Derreti então chocolate amargo com uma colher de sopa de manteiga. Aos poucos os nacos grosseiros da barra de chocolate fundiram-se e deram origem a um creme escuro, espesso, com um aroma indiscritível.
A este momento, sentia-me já num estado de puro fascínio, impressionada com as sensações visuais e olfativas que experimentava.
Juntei então o chocolate derretido ao creme de ovos, maravilhando-me com aquele contraste entre o amarelo suave e o castanho forte. Aos poucos, o castanho sobrepôs-se ao amarelo e o aroma tornou-se ainda mais inebriante…
Por fim, incorporei a nuvem de claras e o êxtase místico foi completo! Ali estava, perante mim,  a tão desejada mousse de chocolate, fruto do meu labor!
Hoje, da mousse já só resta a memória… que aqui fica imortalizada!

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